Todo pai quer que seu filho seja gentil e generoso e que seja empáticos com os demais. Eu sei, você se preocupa no adulto que seu filho vai se tornar. A criança esperneia porque não quer emprestar o brinquedo e você pensa: “ai meu Deus, ele não sabe dividir, será que vai ser egoísta?” Fora isso, o que vão pensar de você quando seu filho se recusar a emprestar o brinquedo dele na pracinha? Você se sentiria muito melhor se ele cedesse nessas horas e mostrasse como você tem sido boa mãe ou pai, como você é capaz de transmitir valores positivos a ele.
A criança é muito nova para entender se está sendo egoísta ou não e demora alguns anos para que ela desenvolva a capacidade de se colocar no lugar do outro. Crianças pequenas não estão prontas para compartilhar, elas ainda estão na fase de serem possessivas com suas coisas. Isso não é um defeito, é apenas a etapa de desenvolvimento que elas estão vivendo.
E veja bem, todo mundo quando ganha algo novo quer primeiro experimentar pra depois compartilhar. Até os adultos, é natural do ser humano (ou você compra um vestido novo e empresta pra sua amiga antes de estrear?).
Forçar seu filho a emprestar pode fazer com que ele tenha mais dificuldade de compartilhar no futuro.
Não interprete o comportamento de hoje da criança como algo tão determinante, temos que ter cuidado para não rotular nossos filhos. É natural a criança querer explorar, conhecer e aproveitar o objeto que ela tem em mãos. A criança é uma pequena cientista e brincar é a função mais importante na vida dela, por isso é tão difícil compartilhar. É como se você estivesse interrompendo o trabalho dela só porque o amiguinho pediu o brinquedo dela emprestado. Por que ela deveria parar o que está fazendo? Imagine que ela está lá, concentrada em sua tarefa importante de brincar e de repente ela é forçada a desistir do que estava fazendo, algo que estava dando prazer a ela, tudo porque alguém apareceu dizendo que também queria pegar aquilo. Que experiência ela vai ter? De que compartilhar a faz se sentir mal, de que ela tem que passar por cima de si mesma para agradar o outro. Ela pode ficar ainda mais possessiva, com medo de perder o objeto que tem em mãos a qualquer momento. É mesmo necessário? Não seria melhor ensinar a outra criança a esperar a vez dela? A respeitar o trabalho e a vontade do seu filho? Ou vice-versa, quando o contrário acontecer?
Eu sempre falo que se nós aprendemos as fases de desenvolvimento da criança, diminuímos nossas expectativas e exigimos menos delas. Você sabia que até uns 3 anos de idade a criança está na fase do brincar paralelo? Ou seja, o natural desta fase é que ela brinque ao lado, mas não junto de outras crianças. Se ela não interage direito, não fique achando que ela é antissocial. Se ela não empresta o brinquedo, não fique com medo nem a chame de egoísta! Não fique achando que você precisa corrigir isso nela pra não “dar ruim” no futuro! Respeite o tempo dele, confie, logo mais ele vai começar a emprestar os brinquedos, a querer interagir com outras crianças.
Se você quiser incentivá-lo, não tem problema, apenas não force. Isso pode até atrapalhar, tornando o compartilhar algo chato, um peso ou obrigação.
Afinal, você quer que seu filho aprenda a dividir porque ele entende que é importante ou porque ele quer te agradar, porque se sente obrigado? Sem querer, ao tirar o brinquedo da mão dele e oferecer ao colega, você está ensinando seu filho que ele tem que ceder sempre, o que pode fazer ele ter dificuldade de se impor no futuro.
Outra mensagem equivocada que podemos passar é que se ele chora muito ou protesta, consegue o que quer, mesmo que seja de outra pessoa. Será que nosso objetivo é agradar nossos filhos sempre ou ensiná-los a lidar com algumas frustrações da vida? Eu sei, muita gente confunde a educação gentil com fazer tudo o que a criança quer, impedir que ela sofra ou se frustre. Mas não é isso que defendemos, queremos filhos resilientes, capazes de lidar com as adversidades da vida. A diferença é que em situações como essas, aceitamos o protesto e acolhemos com amorosidade, não punimos a criança que se altera, estendemos a mão. Mas não permitimos tudo, não resolvemos todos os problemas, isso os tornaria frágeis e inseguros.
Mas o que fazer então nessas horas? Como ajudar a criança a lidar com essas disputas de brinquedo? Como lidar com a expectativa dos demais adultos, que não conhecem as fases de desenvolvimento das crianças e julgam os pais que “não impõem limites” e não “corrigem seus filhos egoístas”?
Aqui nunca forçamos a Nara a emprestar. Sempre incentivamos, mas respeitamos quando não queria ou não quer compartilhar. Isso desde muito cedo mesmo, eu fui aprendendo com ela a lidar com tudo isso e acredito que foi muito positivo, hoje ela tem quase 4 anos e entende bem a importância de oferecer, emprestar, ceder, esperar a própria vez, respeitar quando o outro não quer. Isso significa que ela vai ficar de boa em todas estas situações, que vai aceitar emprestar sempre? Claro que não! Tem vezes que ela não cede e eu entendo que ela está no seu limite, mas geralmente ela já aceita numa boa (permitimos que ela termine de usar, entende?) E tem dias que ela quer algo e a outra criança não está a fim de deixar. Ela não curte, protesta, pode ser até que chore. Aí eu valido: “Puxa, você queria brincar com tal coisa e fulano não quer te dar agora, né? Ele ainda está usando. Quem sabe daqui a pouco ele termina e te deixa brincar também? Quer que eu espere com você? Quer brincar de outra coisa enquanto isso? O que você prefere fazer?”. Se ela insiste, eu lembro que o mesmo acontece com ela, que é normal quando temos algo e queremos brincar sozinho, que brincar junto ou dividi é gostoso, mas não é sempre que estamos a fim. Isso normalmente ajuda.
Algumas ações práticas (traduzidas desta reportagem) podem ajudar se não queremos forçar nossos filhos a emprestarem seu brinquedo:
🚗 SEJA PACIENTE.
A disposição para compartilhar é realmente um marco de desenvolvimento. Mesmo que a gente encoraje as crianças pequenas a serem justas e generosas, elas são muito autocentradas. Não é por maldade, mas por uma questão de desenvolvimento cerebral. Entenda que a criança que agarra o brinquedo dos outros ou se apega ao que tem em mãos enquanto grita “meu!” pode ser tornar muito generosa em poucos anos.
🚕 INCENTIVE RODÍZIOS
Ao invés de insistir que uma criança dê a boneca à outra imediatamente, só porque ela pediu, ensine-a a usar frases assertivas como “daqui a pouco é a sua vez” ou ” quando eu terminar eu te dou“.
Heather Shumaker, autora de “It’s OK Not Share” (“Tudo bem não compartilhar”), diz: “Isso ajuda as crianças a se defenderem e aprenderem a estabelecer limites sobre outras crianças. Uma grande habilidade para a vida! Quantos de nós, como adultos, temos problemas para dizer “não?” Quando a primeira criança soltar o brinquedo e seguir em frente, lembre-a de que a outra está esperando por sua vez (uma ótima lição de cortesia e consciência sobre os outros). O melhor de tudo é quando a criança entrega voluntariamente o brinquedo – é um momento de alegria para ambas as crianças. É quando ela experimenta a adrenalina de ter sido gentil com alguém. É uma generosidade verdadeira, uma sensação calorosa. Algo que ela vai querer repetir muitas vezes, estando ou não sendo observada pelos pais.”
Heather também comenta sobre as crianças que esperam, dizendo que a espera é difícil para crianças de 2 a 5 anos impulsivas, mas também uma excelente habilidade a ser aprendida. Ela diz: “Não tenha medo se a criança espernear ou chorar. Aprender a controlar o comportamento e expressar sentimentos intensos de forma adequada é realmente o principal trabalho da primeira infância. Controlar os impulsos (esperar por um brinquedo e não agarrá-lo) é uma parte vital do desenvolvimento do cérebro que melhora com a prática.”
🚙 BRINQUE DE COMPARTILHAR EM CASA.
É muito possível ensinar através da brincadeira. As crianças absorvem bem as lições quando elas chegam através do brincar, podemos usar fantoches ou brinquedos.
Por exemplo, crie dois fantoches de papel e faça um deles segurar um pequeno brinquedo. O Fantoche 2 pergunta: “Ei, posso brincar com isso?” O Fantoche 1 diz: “Sim, quando eu terminar, é sua vez.” O Fantoche 1 brinca com o brinquedo por alguns minutos, depois encontra outra coisa que lhe interessa, e diz: “Tudo bem, eu terminei. Agora é a sua vez” e entrega o brinquedo para o Fantoche 2.
Você também pode considerar assar biscoitos e levá-los a um encontro com outras crianças para compartilhar ou pegar um punhado de flores silvestres e pedir ao seu filho para entregar um para o irmão, um para o papai, um para a avó, etc.
🏎 RESPEITE AS NECESSIDADES E OS PERTENCES DAS CRIANÇAS.
Está tudo bem permitir que seu filho tenha algo que é só dele – algo que ele não tenha que compartilhar. Algumas crianças desenvolvem apego a brinquedos, cobertores e animais de pelúcia que eles se incomodam muito em deixar com outras crianças. Pense em como você se sentiria se alguém se aproximasse inesperadamente de você e te forçasse a entregar algo seu. Em outras palavras, seja gentil com as crianças. É como elas aprendem a ser gentis com os outros.
🚓 DÊ EXEMPLOS DE COMPARTILHAMENTO.
Nós somos o modelo sempre e as crianças aprendem mais observando a gente do que sendo forçadas a compartilhar. Então, quando você fizer um monte de pipoca, você pode dizer: “Você quer um pouco? Eu divido com você.” Procure oportunidades ao longo do dia para mostrar a partilha de forma positiva. “Eu adoro compartilhar minha coberta com você enquanto lemos.”; “Vem se sentar com a gente, vamos abrir espaço para você!”; “Quando eu terminar, eu te empresto“.
À medida que as crianças crescem e amadurecem, elas são mais capazes de controlar seus impulsos e de pensar em atender as necessidades dos outros. Até lá, encoraje-as a se revezarem, incentive a cortesia e a generosidade, e valide-as quando elas cedem a vez a outra criança ou compartilham algo. “Que legal que você deixou a Josie brincar agora com o brinquedo! Olhe como ela está feliz!”
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Nós temos que aprender a ver as crianças desde o ponto de vista delas para não pirar no cabeção! A primeira mudança para educar com respeito é na forma como você enxerga seu filho. E ele merece que você aprenda sobre o que é normal de cada etapa de desenvolvimento e não cobre dele o que ele é incapaz de oferecer! Capaz ele até é, mas para responder à sua expectativa, muitas vezes ele vai ter que desrespeitar a si mesmo. Será que é essa a sua intenção? Que ele se desrespeite pra te agradar? Acho que não, né?
Quando você entende o que está acontecendo com a criança, a relação de vocês muda. Que tal descobrir formas gentis e respeitosas de lidar com os comportamentos do seu filho que te desafiam?
✍️: Maíra Soares (@cantomaternar), Mentora de Mães e Educadora Parental em Criação Consciente
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Espero que este artigo tenha te ajudado.
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