Quando voltamos do hospital na quarta à noite, a Nara estava super sensível e exigente. Começou a ficar resistente com várias coisas: “não quero tomar banho, não quero isso, não quero aquilo”. Na hora de tomar o remédio, não foi diferente, não queria de jeito nenhum.
Já tivemos muitos episódios de resistência com consultas médicas, remédios, exames ou necessários (a Nara já passou por duas cirurgias, provas de sono, extração de dentes e colocação de implante dentário, uso de aparelho de apneia para dormir). São situações super difíceis de lidar, a criança geralmente está assustada ou simplesmente não quer colaborar porque vai doer, incomodar e os pais ficam tensos por saberem que não é algo negociável. É difícil manter a firmeza com amorosidade nessas horas, sem querer começamos a ameaçar, a meter medo. Aqui em casa esses momentos eram muito dolorosos, muitas vezes notei o quanto a Nara ia se fechando mais e ficando ressentida com nós dois. Foram fases de muita desconexão, cheguei a abrir mão de algumas coisas para aliviar as exigências com ela. Preferi deixar ela banguela que exigir que usasse o aparelho móvel com os dentes da frente, por exemplo, porque era apenas estético e bem chatinho de se adaptar. Como ela já tem uma rotina puxada com médicos por conta da malformação na mandíbula e tem que se submeter a muita coisa, optei por deixar essa questão de lado.
Mas e quando não há opção de escolha? E quando temos que dar o remédio sim ou sim e a criança não aceita?
É importante se colocar no lugar deles. Estão assustados, não entendem muito bem a importância daquilo, precisam de muita compreensão. Mesmo assim, eu sei bem que só isso pode não funcionar, mas é importante ser firme e não ceder. Somos os guias de nossos filhos, responsáveis pelo bem estar deles e eles precisam saber disso. Com amorosidade, calma, firmeza e muita confiança, podemos passar a eles o entendimento de que o remédio tem uma função importante e não é negociável. Nossos filhos também têm que aprender a lidar com as adversidades da vida.
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Foi preciso muita paciência, empatia e firmeza para convencer a Nara a tomar o antibiótico. Ele veio num pozinho branco, tínhamos que acrescentar água e ficou com um aspecto bem horrível. Ela precisava tomar 4ml a cada 12h por 5 dias. Como se jogou embaixo da mesa gritando que não queria, tive que ser muito firme com ela. Ao mesmo tempo, entendi que sua resistência estava relacionada ao medo de tudo que tinha passado e ao mal estar de ter sido submetida já a inúmeros procedimentos médicos indesejados e incômodos. Ela estava cansada de ter que aceitar decisões externas sobre seu corpo, isso é muito compreensível. Não julgar a criança, não minimizar suas dores e saber observar o que está por trás do seu comportamento nos ajuda a ter uma postura mais empática e acolhedora com ela.
– Querida, precisamos conversar, tenho algo sério para te dizer. Você passou por uma cirurgia e na verdade nós fomos muito abençoadas e temos que agradecer que conseguimos voltar para casa no mesmo dia. E você me disse que foi mais fácil do que você imaginava, não é verdade? (quando a Nara se prende no negativo, no que não quer ou não pode fazer, gosto de ressaltar o lado bom da experiência e de incentivá-la a agradecer)
– Sim.
– Mas você também reclamou que não estava gostando, que queria ir para casa logo. Quando nós fazemos uma operação, os médicos pedem para que a gente se cuide por uns dias porque precisamos nos recuperar e não podemos correr o risco de ter alguma infecção na zona do corte. Se a gente toma os remédios que eles pedem, ficamos bem e não precisamos voltar ao hospital. Você quer voltar pro hospital?
– Não.
– Eu também não quero que você volte. Eu preciso cuidar de você, sou sua mãe, meu papel é te proteger. Eu sei que o remédio tem gosto ruim, eu também não gosto de tomar remédio. Mas não tomar o remédio é pior porque é arriscado e eu não posso arriscar sua saúde, entende?
– … (ela fazia cara de desgosto, mas aos poucos foi se abrindo)
– Eu te dou algumas opções. Você pode fazer careta, pode tomar o remédio com suco, achocolatado, com sorvete, pode chorar se precisar, eu te dou colo. Mas precisa tomar, meu amor. Você me diz como prefere tomar, mas ficar sem tomar não é opção.
– (ela ficou um pouco mais aberta, então acrescentei)
– E não esqueça, filha, que você foi muito corajosa! Veja tudo o que você passou no hospital e conseguiu enfrentar. Lembra-se das gotinhas de coragem e valentia que você está tomando? Estão funcionando! Vamos usar um pouco dessa coragem pra tomar o remédio também? Eu tenho certeza que você é capaz. São só 5 dias e depois não precisamos mais.
Foi um alívio quando ela topou. Acabou optando por tomar com sorvete e agora já leva numa boa. Acredito que também estou mais confiante, não me sentindo mal por fazê-la passar por isso. Isso com certeza transmite mais segurança a ela, porque não fico duvidando (mesmo que internamente) da minha decisão, consigo me colocar com mais firmeza.
Texto: Maíra Soares (@cantomaternar)
PS: As “gotinhas de coragem e valentia” são as Flores de Bach indicadas pela Andressa Oliveira, nossa terapeuta de florais (@andressaflorais). Eu falo um pouco da experiência com os florais neste post.
Espero que este artigo tenha te ajudado.
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