Chegou a hora de levar nosso filho pra creche ou pra escolinha e surgem mil dúvidas e inseguranças. Não é fácil para o bebê ou a criança lidarem com a separação dos pais, com a adaptação ao novo ambiente, novos cuidadores, novos desafios. Da mesma forma, nós mesmos podemos entrar em contato com memórias passadas de situações não muito agradáveis que nos deixam sensíveis e apreensivos com o que pode passar com nossos filhos.
Eu fui pro berçário super bebê, com apenas 4 meses, e permanecia na escola por 12h. Resultado? Adoeci muito, a ponto da minha mãe decidir contratar uma pessoa pra ficar comigo em casa. Não sei e nem me lembro de detalhes, mas já maiorzinha, uma lembrança que tenho muito forte é de mim me preparando todos os dias com a mochila e indo pro corredor que dava pra saída da escola pra ficar de “plantão” enquanto eu esperava minha mãe me buscar. Eu ouvia as crianças brincando no pátio e preferia ficar por lá, só pensava em ir pra casa. A primeira vez que tentei colocar a Nara na escolinha, ela estava com quase 2 anos. Escolhi um lugar super bacana, bem alinhado com meus valores, mas mesmo assim não deu certo. Em parte porque eu senti que ela estava imatura e, encontrando uma alternativa, preferi que ela ficasse em casa com uma cuidadora que contratei junto com uma vizinha, mãe de um amiguinho do parque que se dava muito bem com ela. Os dois conviveram quase um ano nesse esquema e foi maravilhoso para eles. Mas olhando para trás, percebo o quanto a experiência dela mexeu com minha criança ferida e me senti insegura de insistir com a entrada dela na escola. Me partia o coração vê-la estender os braços magrinhos para mim quando eu chegava para buscá-la, enquanto dizia: “Mamãe chegou! A Nara estava triste porque mamãe não estava”.
Pensando nisso tudo, reuni alguns pontos importantes que podemos dar atenção para que ajudemos nossos filhos (e nós mesmos) a lidar com as emoções nesta etapa tão desafiadora.
1) Não crie muitas expectativas, pode ser que demore mais ou menos para a criança ou o bebê se sentirem adaptados à novidade. Pode ser que seu filho aceite bem no começo, que pareça entusiasmado, e dentro de uns dias passe a reclamar, a oferecer resistência. Não cante vitória tão cedo, porque entrar na escola é mesmo desafiador para ele e pode ser uma fase de altos e baixos.
2) Tente não comparar a experiência do seu filho com a do filho da vizinha, de alguém da família ou outras crianças ou bebês da escola, isso só vai fazer você se sentir pressionada, não é justo com ele nem com você.
3) Empatize, coloque-se no lugar do seu filho. É normal ele te agarrar ou chorar quando você se despede, ele não está acostumado com a ideia da separação. Talvez você tenha explicado a seu filho que você precisa deixá-lo na escola para ir trabalhar e ele parece ter entendido bem. Mas isso não significa que ele não vai sentir sua falta ou que não sinta a dor da separação. Aceite as emoções dele, sejam quais forem. Ele tem que saber que tudo bem querer que você não vá embora, que tudo bem chorar e expressar sua tristeza ou revolta. A última coisa que seu filho precisa agora é se sentir julgado ou incompreendido.
4) Acompanhe as possíveis mudanças de comportamento. Pode ser que seu filho comece a ter mais crises de choro em casa, que deixe o xixi escapar, que comece a acordar mais à noite. Não brigue com ele, entenda que ele está passando por muita mudança e está difícil pra ele. Talvez ele precise chorar pra soltar a tensão emocional acumulada pelos desafios que ele tem vivido. Acompanhe esse choro com o máximo de acolhimento e carinho, essas crises têm um efeito curativo muito poderoso.
5) Compense as horas de separação com muita presença e tempo de qualidade com seu filho. Ele precisa se nutrir do seu amor quando recupera sua companhia. Dedique um tempo especial a ele, sem celular, sem preocupações de trabalho ou domésticas, sem distrações.
6) Nomeie e explique o que está acontecendo, isso vai trazer mais conforto a ele. Se não podemos mudar a realidade, podemos pelo menos mostrar a eles que sabemos como se sentem. Você pode dizer frases como:
“Você está sentindo minha falta, eu te entendo”.
“Você queria que eu ficasse aqui com você, eu sei”.
“Você queria estar em casa, eu também queria que fosse possível ficar o dia todo com você e não é possível, não é?”.
“É normal se sentir assim, também me senti assim quando comecei a ir pra escolinha.”
7) Passe confiança a ele, mas entenda que pode levar um tempo para ele entender que você vai e volta. Frases que eu dizia à minha filha para ajudá-la a se sentir mais segura: “Eu tô indo embora, mas eu volto mais tarde”. E sempre que eu voltava, reforçava: “Eu voltei! Viu que eu voltei? Eu disse que ia voltar e voltei. Eu sempre vou voltar.”
8) Esteja confiante para passar confiança a seu filho. A adaptação escolar pode remover algumas emoções suas do passado e pode ser que você transfira seus medos ou inseguranças para a vivência do seu filho. Lembre-se que você é o adulto e quanto mais seguro estiver, mais tranquilidade passará a seu filho. Especialmente para bebês, que estão fusionados emocionalmente com as mães, é importante não estar angustiada para não transmitir isso a eles, porque eles captam nosso emocional e ficam inquietos também. Por isso, escolher bem o lugar onde seu filho vai frequentar é fundamental. Tem que ser um espaço que te toque o coração e te deixe tranquilo.
9) Trabalhe junto do/a professor/a do seu filho e busque estratégias para a adaptação ser mais leve, para que doa menos. Seu filho vai se sentir melhor quando criar vínculo com as pessoas da escola e o ideal é que os educadores saibam acolher as emoções do seu filho com muita amorosidade e compreensão.
10) Se a escola permitir, seu filho pode levar um objeto de transição de casa para a escola, um boneco ou brinquedo que ele goste muito e que o faça se sentir mais tranquilo e conectado com os pais. Você pode explicar a ele que ele pode abraçar o boneco quando sentir sua falta. Se a escola não permitir, você pode colocar uma pulseira “mágica” que espanta a tristeza ou um colar com uma pedra. Ou mesmo fazer uma “tatuagem” na criança. Eu desenhei um coração no pulso da Nara alguns dias e outro igual em mim e disse para ela levar o desenho pro coração dela sempre que sentisse minha falta, porque assim eu ouviria seu chamado e lhe enviaria meu amor.
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11) Respire fundo, tenha paciência e acredite: vai passar. Se estamos calmos, podemos lidar com a situação de forma mais leve, assim como aceitar e acompanhar as emoções dos nossos filhos.
12) Se não está bom, se nosso filho está passando muito mal, talvez seja o caso de reconsiderar mudar de escola ou adiar essa etapa. Talvez esteja cedo demais para entrar na escola, talvez existam alternativas. E se for o caso de voltar atrás, não há problemas. Há quem pense que isso pode confundir a criança, no entanto é possível explicar que nos equivocamos e decidimos adiar a escolinha para o ano seguinte. Se é o que seu coração pede, siga em frente.
Para complementar, queria comentar algumas condutas que não são recomendáveis, já que podem fazer a criança se sentir mais insegura ou até mesmo inadequada.
NÃO CAIA NESSA
1) Não saia sem se despedir. Seu filho precisa se sentir seguro e sair de fininho pode te poupar uma cena de choro diante de você, mas isso não quer dizer que ele não vai passa mal quando se der conta que você foi embora. Além disso, ele pode começar a ficar inseguro na sua presença, porque não saberá dizer quando de novo você pode sumir do nada. Se queremos uma relação de confiança com nossos filhos, precisamos passar segurança a eles.
2) Não chantageie a criança com frases como: “não chore, se não mamãe vai triste pro trabalho”. Isso só vai fazer seu filho se sentir culpado por estar mal. Se ele tinha um motivo para se sentir mal, agora ele passa a ter mais um.
3) Não economize beijos, abraços e amor fora da escola para não “viciar” a criança e fazê-la se acostumar mais rápido com sua ausência. Ao contrário! Dê muito amor para compensar as horas de separação e nutrir seu filho de sensação de bem-estar. Evitar o contato só vai fazê-lo se sentir pior e queremos que ele se sinta bem, não é mesmo?
4) Não se sinta culpada. Se você não tem opção de estar com seu filho mais tempo do que gostaria ou do que acredita ser adequado, aceite a realidade e encontre a forma mais acolhedora de acompanhar seu filho e se adaptar a esta situação. Nem tudo na maternidade pode ser como idealizamos e nossos filhos também terão que se adaptar a isso. O problema é muito mais quando queremos que eles não se manifestem a respeito, quando ficamos bravas com eles por protestarem ou ficarem tristes com o que lhes passa.
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Espero ter ajudado com essas dicas. Se você quiser um refletir mais sobre este tema, te convido a escutar o podcast que gravei com a Clarissa Yakiara sobre Adaptação Escolar.
✍️: Maíra Soares (@cantomaternar), Mentora de Mães e Educadora Parental em Criação Consciente
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Realmente revivemos momentos da infância.. eu sofria muito por ficar longe da minha mãe. Tenho medo da minha filha sofrer com isso também. Não estou conseguindo lidar bem com essa realidade, mas as dicas me ajudaram a me acalmar um pouco.. obrigada!