– Mãe, eu quero bolo de aveia.
– Filha, acabou, hoje você já comeu um pedaço, lembra que só comemos um por dia?
– Mas eu quero.
– Eu sei, meu amor, e não tem mais, né? Você quer uma fruta? Tem uva.
– Então eu quero uva passa.
– Uva passa também não tem, temos uva, quer?
– Eu quero uva passa.
– Eu sei e a uva passa acabou. Também tem banana, quer?
– Eu quero uva passa. – Ela fala brava e começa a chorar.

Me irrito. Ofereci alternativas, falei gentilmente, por que ela não aceita? O diálogo se estende no mesmo tom e ela insiste. Vou perdendo a paciência.

– Filha, não adianta chorar, a uva passa não vai aparecer com o choro, por que não focamos nas infinitas possibilidades que temos? Posso fazer um sanduíche, tem banana, uva. O que você quer?
– Quero uva passa.

E um rio de lágrimas “sem motivo” (na minha cabeça teimosa) sai de seus olhos. Vou ficando mais nervosa, estou impaciente porque tive um dia todo dedicado a ela e ainda assim “ela não está satisfeita, ela não reconhece meu esforço, ela não me entende, não colabora comigo”.

Respiro fundo. Meu juiz interno está acionado, minha criança interior começa a espernear e a me dizer que essa menina reclama demais à toa, que ela com muito menos já tinha se conformado e deixado de encher o saco. São julgamentos, interpretações distorcidas do comportamento dela, baseadas nas minhas necessidades e dores próprias. Eu sei disso, mas não consigo evitar o blá blá blá interno. Reconheço que se insistir por este caminho as coisas não ficarão bem. Estou querendo “consertar a vontade dela” e isso nunca termina bem.

Um dos maiores erros que cometemos é querer consertar o sentimento dos filhos e sei muito bem disso. Todo sentimento é válido, é legítimo. Se está difícil de aceitar, é porque toca num ponto de dor nosso, é porque provavelmente tivemos que reprimir este sentimento na infância.

Respiro fundo. Ok, eu sou a adulta, cabe a mim mudar de postura. Ela está sentada ao meu lado, lágrimas escorrendo, eu admito minha frieza e me recomponho.

– Filha, quer uma abraço?
– Sim. – Ela estende os braços e vem pro meu colo.
– Você está com muita vontade de comer uva passa, não é mesmo?
– Sim.
– Eu sei, meu amor, você queria muito uva passa e não temos uva passa, não é? Puxa, seria muito legal se tivéssemos uvas passas, não é mesmo?
– Sim.
– Já imaginou se tivéssemos um pote enorme de uvas passas e você pudesse encher a mão e comer todas e depois sua barriga ia ficar cheia de uva passa? – passo o dedo na barriguinha dela fingindo que as uvas estão entrando e subindo. Ela sorri, enxuga as lágrimas e me olha com cara de que sim, seria legal mesmo… de repente olha pro lado, vê um colar na mesa que ela fez para mim e diz:
– Olha, o colar que eu te dei! Põe ele, mamãe. Eu quero que você ponha o colar.

Coloco o colar e ela nem fala mais da uva passa. Pergunto se quer que eu cante uma canção com ela na mochila porque noto que está bem cansada e que parte da sensibilidade era causada pelo sono. Ela aceita e em poucos minutos está dormindo enquanto a nino.

É impressionante como validar a criança ajuda ela a soltar o problema. Enquanto eu ficava insistindo em “corrigir o querer” dela, ela parecia mais inconformada e agarrada ao desejo inalcançável. Eu, no alto da minha adultez, queria que ela entendesse que quando não podemos algo, o mundo nos oferece alternativas. Acho sim que ela tem que aprender isso, e no fim ela até entende e aceita outras opções. Mas percebo que minha pressa em “fazê-la entender”, em aproveitar cada situação dessas para ensinar-lhe uma lição, me desconecta dela, me impede de aceitar quem ela é naquele momento. Se não aceito que ela se frustre, ela se frustra mais ainda. Validando o que ela quer ou o que ela sente, nos aproximamos, ela se sente acolhida e relaxa. Mesmo que eu não possa oferecer o que ela quer, ela se sente vista, considerada, amada.

Que fique claro que validar não significa necessariamente concordar com o ponto de vista da criança, mas aceitar que ela sente o que sente. É dar importância para a alteração de ânimo da criança, sem julgá-la por acreditar que não há motivos para ela se frustrar ou sentir raiva. Quem somos nós para impor o que alguém sente? Nosso papel é acompanhar e estar presente, permitindo que a criança se sinta amada, respeitada, reconhecida, vista, considerada e segura. Infelizmente a maioria de nós não recebemos este tipo de acolhimento e tivemos que reprimir nossas emoções e necessidades na infância. Como consequência, acabamos reagindo mal quando nossos filhos têm uma crise emocional, porque nos conectamos com feridas antigas.

Validar é uma das ferramentas que mais uso aqui. É um aprendizado constante e algo que percebo que me ajuda muito a me conectar com a Nara. E também a aceitar melhor meus momentos ruis, entender que tenho o direito de me sentir mal, assim como ela, assim como todos nós.

* Também usei, na experiência relatada com minha filha, o poder da imaginação, que é algo que muitas vezes ajuda ela a soltar a questão. Vou descrevendo o que ela gostaria que acontecesse de forma exagerada, em tom bem humorado e ela acaba se divertindo com as imagens que crio. É um jeito de realizar o desejo dela usando o poder do cérebro e da imaginação. Esta é uma das ideias que apresento neste post em que dou 7 Dicas para ajudar seu filho a lidar com a frustração.

E com vocês, como tem sido estes momentos? Alguma experiência para compartilhar?

✍️: Maíra Soares (@cantomaternar), Mentora de Mães e Educadora Parental em Criação Consciente

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