– Nara, vou esquentar o franguinho pra gente jantar.
– Não, eu quero outra coisa.
– Tem um resto de lentilha também, quer?
– Eu quero a lentilha congelada.
– Filha, mas é a mesma lentilha.
– Eu quero que você PREPARE a lentilha.
– Amor, mas já tem comida pronta, não vou fazer outra coisa.
– Mas eu quero. – A esta altura ela dizia isso aos prantos. Eu passei alguns minutos insistindo nessa conversa, mas ela não se convencia de nada.
Foi então que eu pausei para tentar entender de onde vinha aquele choro todo. Fiz o que costumo fazer, revisei o dia para ver se encontrava alguma pista de algo que poderia ter deixado ela mal.
Neste dia tínhamos acordado pela primeira vez sozinhas depois da mudança do pai dela pra casa nova. De manhã chegaram alguns móveis e eu estava louca para montar as estantes e começar a ajeitar a casa, mas tínhamos combinado de visitar o pai dela e almoçar com meu ex-sogro e sua mulher. Com isso, só voltamos no fim da tarde, eu não via a hora de colocar ela para dormir para me dedicar à minha “nova casa”.
Seria a segunda noite que dormiríamos sozinhas depois da mudança do pai dela. Ela com certeza estava mexida por estar vendo a casa desconfigurada, com móveis diferentes espalhados pela sala quase vazia e bagunçada. Ela parecia empolgada quando visitamos o apartamento novo do pai dela e, mesmo protestando um pouco na hora da despedida, acabou indo embora de boa.
Dias antes, eu tinha perguntado em que momentos ela mais curtia estar comigo, quando se sentia amada por mim, e uma das situações que ela citou foi: “quando cozinhamos juntas, mamãe”.
Foi aí que eu percebi porque ela queria que eu PREPARASSE algo para o jantar. Eu tinha passado o dia eufórica e louca para virar mais uma página do meu processo de separação. Ela, com seu jeito tranquilo e divertido, não demonstrou precisar de muito apoio, mas pelo jeito estava sem conseguir elaborar seus sentimentos e sentindo falta de mim.
– Filha, você tá querendo cozinhar comigo, é isso?
– Sim!
– Você tá com vontade de fazer algo gostoso com a mamãe? Você tá sentindo a minha falta?
– Sim!
E foi aí que eu sugeri de fazermos um macarrão. Coloquei nossa playlist de músicas infantis do Spotify e fomos pra cozinha. É muito raro eu ceder nessas horas, mas aquele dia tinha sido muito delicado e percebi que ela também tinha segurado uma barra e estava me pedindo, de um jeito meio torto, para CONECTAR comigo, para sentir um carinho e ter um momento especial comigo. Eu poderia ter encontrado outras formas de oferecer mais presença e conexão neste dia, mas neste momento cozinhar um macarrãozinho com ela pareceu algo que eu estava disposta a fazer e que acolheria a demanda dela também. A verdade é que acabou sendo gostoso para nós duas.
Não é fácil para a criança fazer pedidos claros. Não é fácil nem para o adulto, sejamos sinceros. Quantas vezes nos sentimos mal com algo e nem sabemos dizer exatamente porque estamos incomodados? Como eu posso exigir que a criança, com toda sua imaturidade emocional, saiba como se expressar claramente?
O comportamento inadequado da criança esconde um pedido, ele evidencia que existe uma necessidade não atendida. O adulto precisa ter sensibilidade para compreender a mensagem da criança, esquivando-se do julgamento automático que fazemos nessas horas. Eu poderia achar que ela estava sendo implicante ou chata de propósito. Que estava sendo injusta, egoísta ou caprichosa. Se eu me deixasse levar por essa interpretação, acabaria ficando irritada e bateria de frente com ela. Provavelmente sairiam as duas magoadas e sem resolver o conflito. Mas eu percebi que tinha uma dor, não era um dia qualquer e ela certamente tinha algo para pôr pra fora.
Eu demorei bastante tempo para aprender como reconhecer as necessidades da Nara por trás de comportamentos desafiadores. E muito mais para saber como reagir sem ser no piloto automático, sem me deixar levar pelos julgamentos rápidos que surgem em nossa mente quando estamos diante de um comportamento que nos desagrada.
Estudar Comunicação Não Violenta e Criação Consciente, além de me abrir para processos de autoconhecimento, me ajudam muito a ter uma postura mais consciente e madura nessas horas. É quando eu percebo que todo o meu empenho para aprender a maternar com consciência está valendo a pena. Me sinto muito conectada com a Nara e muito mais acolhedora com ela e comigo mesma. ❤
✍️: Maíra Soares (@cantomaternar), Mentora de Mães e Educadora Parental em Criação Consciente
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